"Meninas nunca são iguais. Elas podem até se parecer um pouco com outra pessoa nisso ou naquilo, mas são agora completamente diferentes do que eram ontem e do que serão daqui a pouco, construindo assim a misteriosa e fascinante figura feminina. E se o primeiro álbum de um artista serve para que sua identidade seja revelada, o que Luiza Caspary nos mostra é uma perspectiva variada de uma só face - a sua própria. 　　 　　Ao longo de doze faixas, ela é apaixonada, sedutora, otimista, diva pop e aquela amiga meiga com quem você quer se encontrar às vezes só pelo abraço. Luiza é sereia em uma faixa e mulher com os pés no chão na outra. É em português, inglês e espanhol com poesia, maquiagem, música cover, figurino e voz - e que voz! É muita coisa sendo apenas uma, e só conseguiria ser ela mesma dessa forma. 　　 　　É como se, ao invés de uma longa história sendo narrada pelas composições, ela lançasse um livro de pequenos contos cantados. Um deles é mais pop, o outro tem uma pegada mais MPB, aquele lá tem um quê de música folk e a vibe eletrônica rola solta naquele outro. Porém, mesmo se eles parecem não se misturar, é no conjunto, na soma, que o significado se forma como um todo. Cada música, por mostrar um pouquinho dela, tem seu lugar certo no disco. 　　 　　Tem espaço pra falar de luz, fé, cafuné, do mar e de amor, compreender e se indignar, rimar nas três línguas, fazer dueto e cantar versos do New Radicals. Dá para interpretar diferentes personagens, da guria apaixonada à mulher determinada, todas inspiradas na sinceridade de quem faz arte com o coração e ama o palco. 　　 　　E o álbum parece ter sido feito para ser mostrado ao vivo. Mesmo com tantas camadas e a ambientação eletrônica, ele passa a sensação de ter sido pensado para sua protagonista brilhar ao abrir das cortinas. E quem é ela sob os holofotes? É uma só Luiza em diferentes páginas de diário, fotos feitas em frente ao espelho antes de sair e recadinhos ditos ao pé do ouvido. 　　 　　Como todo retrato bem feito de uma alma feminina, é um disco cheio de personalidade que não nos deixa dúvidas sobre quem Luiza Caspary é, muito menos do capricho com que ela trata seu trabalho. Alie tudo isso a um sorriso e um vozerão que parecem não caber em uma garota miúda e temos o reterato de um ambicioso sonho que não se conclui com o lançamento do álbum, mas está apenas começando." 　　 　　Texto: André Felipe de Medeiros - Blog Música Pavê