Formas 　　A idéia de fazer um álbum não era concreta desde o início. Eu comecei a produzir e a arranjar algumas músicas autorais em casa. A primeira música foi gravada em 2014 e era bem simples, com poucos recursos de edição e um arranjo pobre. 　　2 anos se passaram e com isso uma série de músicas foram compostas e deixadas para trás por conta de uma série de fatores como por exemplo: insatisfação a cerca da qualidade da gravação, das letras e do arranjo. 　　Até que eu percebi o que eu estava fazendo de errado e me deixou insatisfeito com as músicas: Elas não representavam algo para mim, nenhuma delas me fazia lembrar de alguma coisa ou jogar pra fora um momento, um pensamento, uma sensação. Não, eram apenas notas e letras jogadas no ar. 　　Foi nesse ponto que percebi que as composições não deveriam ser forçadas, e sim, naturais. Nem sempre a ideia irá sair quando você está sentado no piano ou com a mão no violão.A ideia vem no meio da rua, no metro, quando acorda, quando dorme, quando anda etc... Era só perceber isso e ter um gravador sempre por perto. 　　Então no início de 2016 eu começo a compor realmente, a ver a composição como uma válvula de escape, uma forma de expressar ou expor uma ideia a outras pessoas. 　　A primeira música feita foi Folha de Papel, que puxa mais para um estilo "indie"e que fala sobre relações interpessoais e como as vezes temos uma dificuldade de comunicação absurda que parece que nos comunicamos por correio... 　　A segunda música composta foi gerações que é mais uma reflexão sobre as músicas que escutei a minha vida inteira. A música fala sobre música, ou melhor, sobre qualquer forma de arte. Não qualquer arte, e sim aquelas que são tão boas, que seu avô escutava e que seu pai escutou e que você escuta. São tão boas, que atravessam uma barreira de uma geração que é muito grande(por algum motivo, jovens costumam ter uma certa repulsão pra coisas que seus pais/ avós ouviam, viam, faziam, e acabam chamando qualquer coisa desse tipo de "careta") 　　A terceira música feita eu não lembro ao certo qual foi, mas acho que foi "Dom Quixote". Essa é talvez a música mais parada e melancólica do álbum. Trata-se do colégio que passei a minha infância cujo nome é o título da faixa. Esse colégio faliu e hoje é um terreno abandonado. Ele foi muito importante pra mim pois era um local de ensino que pouco se preocupava com a famosa "decoreba"que os colégios de hoje em dia se preocupam e formava uma pessoa. Hoje por exemplo não se ve mais um colégio que tenha aula de música, culinária, capoeira, judô e uma série de outras atividades que foram deixadas para trás e vistas como "não importantes" 　　A quarta música foi "Sonhos"e trata-se de uma indecisão que toda pessoa tem que ter uma vez na vida que é: o que é que eu vou ser daqui a 10 anos??? Esse conflito interno que ficamos é as vezes desumano e nos faz escolher muitas vezes entre um sonho que não tem muito apoio da sociedade e uma vida normal. Mas será que a vida normal é ruim? 　　A quinta música foi "Dorme Bem" e com certeza é uma das minhas favoritas. Ela segue mais ou menos a mesma linha de "sonhos"e inclusive as duas foram feitas muito próximas uma das outras. A letra fala da indecisão de qual caminho seguir e questiona o fato da pessoa ter que fazer tudo certo, tudo "bem"sendo que ninguém é perfeito. 　　A sexta música foi "Morena" e assim como "Dorme Bem"é uma das minhas favoritas. Ela foi um reflexo de um pensamento de admiração da cidade maravilhosa que é o Rio de Janeiro, e nada melhor para representar tal contemplação do que uma bossa nova que retoma toda a vanguarda da música popular e dá um pouco mais de personalidade para o album. 　　 A sétima música foi "Luzes do Bairro"e ela foi feita para uns amigos meus que brigaram e eu tentei fazer com que eles fizessem as pazes e me encontrei falando que "as luzes desse bairro só acendem pra nos ver". Achei que seria interessante fazer uma letra não só falando da briga e sim da amizade como um todo. 　　A oitava música é um instrumental que dei o nome do título do álbum("Formas"). Eu tentei com esse instrumental passar um ar de tranquilidade e de finalização. Usei alguns instrumentos que estavam "aposentados"como por exemplo uma citara que ganhei quando pequeno que da início ao instrumental. 　　Como eu disse anteriormente, o álbum foi feito de forma natural e espontânea e cada música representava uma forma minha em cada momento, em cada situação. O título do álbum refere-se exatamente a isso e a capa são 4 pinturas que representam cada uma, uma música, uma forma minha naquele momento. Para representar isso, cada quadro foi pintado em uma tela com um formato diferente. 　　Acho que o resultado ficou muito bom e eu espero que quem esteja lendo isso escute atenciosamente o álbum. 　　-Mello